Cada vez mais percebemos que o bebê como já dizia Leboyer não necessita apenas de leite, mas também de carinho para se desenvolver!
Hoje saiu essa matéria no jornal Folha de São Paulo escrita pela neurocientista Suzana Herculano-Houzel e professora da UFRJ, autora do livro "Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor" (ed. Sextante) e do blog "A Neurocientista de Plantão".
Só alimentar não basta: O cérebro do bebê dá mais valor a quem o embala e aconchega do que a quem o alimenta.
Interessado em entender o que é a figura da mãe para um bebê, no final dos anos 1950 o psicólogo Harry Harlow separou bebês macacos de suas mães logo após o nascimento e deu-lhes todos os cuidados médicos e nutrição. Mas os animais, criados em isolamento, morriam.
Notando o apego que os filhotes criavam aos panos que forravam a gaiola e às protuberâncias metálicas de algumas delas, Harlow criou um experimento que fez história: passou a criar os bebês macacos na presença de um manequim de arame, aquecido e com rosto, que oferecia uma mamadeira, e de outro, igualmente aquecido e com rosto, que não provia alimento, mas era recoberto de toalha macia.
Resultado: os animais passavam o tempo necessário para se alimentar na "mãe nutridora" e prontamente corriam para a "mãe macia".
Que, veja bem, não dava carinho-mas aceitava as carícias do filhote, que passava boa parte do dia explorando seu "rosto" e o tecido de seu "corpo". Era para ela, e não para a "mãe nutridora", que os animais corriam quando amedrontados; era ela, e não a outra, cuja presença tornava os animais seguros para brincar com outros macacos.
O experimento de Harlow soa cruel hoje, mas, na época, apenas repetia a norma de tantos orfanatos e hospitais, seguida por muitas mães, de deixar bebês sozinhos em seus leitos, segurando-os somente para alimentá-los.
Nas instituições, mesmo se criados sob condições médicas perfeitamente controladas, os bebês morriam -como os filhotes sem mãe-manequim de Harlow.
Somente nos anos 1980, quando a norte-americana Tiffany Field e sua equipe começaram a massagear sistematicamente bebês prematuros em unidades neonatais, com resultados maravilhosos, constatou-se o maior dos poderes da mãe: dar carinho a seus filhotes.
Com um sistema de nervos especializados em detectar carícias -a demonstração mais inequívoca de não estar sozinho no mundo-, o cérebro do bebê dá mais valor a quem o embala e aconchega do que a quem o alimenta.
No Canadá, o neurocientista Michael Meaney hoje explica por que: o cérebro de quem recebe carinhos maternos muda sua resposta ao estresse pelo resto da vida e gera um indivíduo mais tranquilo, saudável -e propenso a passar o carinho adiante.
Pouco importa se a mãe que acaricia é biológica ou adotiva. Se você recebeu carinho, você teve mãe -e seu cérebro se lembrará disso (e dela) pelo resto da vida.
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